quinta-feira, 30 de julho de 2015

Imprensa internacional repercute denúncia de água contaminada em locais de provas em 2016
Reportagem da AP revelou que testes independentes encontraram vírus e bactérias na Baía, na Lagoa e na Praia de Copacabana
POR LUISA VALLE
30/07/2015 16:42 / ATUALIZADO 30/07/2015 18:08



Matéria da AP repercute no jornal The Guardian - Reprodução
RIO - A reportagem da agência de notícias Associated Press (AP) sobre a má qualidade da água em locais de competições dos Jogos Olímpicos de 2016 ganhou repercussão em sites de importantes jornais e televisões de todo o mundo nesta quinta-feira. Segundo a AP, foram encontrados níveis perigosamente altos de vírus e bactérias de esgoto humano na Baía de Guanabara, Lagoa Rodrigo de Freitas e na Praia de Copacabana, e por isso atletas que participarão do evento correm o risco de contrair alguma doença.
O jornal The Guardian chamou atenção para a afirmação feita pelo biólogo marinho John Griffith, ouvido pela reportagem da AP. Ele disse que os atletas nadarão em esgoto in natura. Já a rede BBC lembrou que o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, admitiu na quarta-feira que os organizadores dos Jogos do Rio enfrentarão sérios desafios para limpar a Baía de Guanabara, onde acontecerão as provas de vela.
Já o Huffington Post lembrou o fato de autoridades brasileiras terem, recentemente, afirmado que a qualidade da água ficaria segura para os atletas. Apesar disso, o governo admitiu à agência de notícias AP que não testa as águas para vírus. A reportagem da AP afirma que encomendou quatro rodadas de testes em cada um dos três locais de competições, além da água que alcança a areia da praia de Ipanema. Ao todo, 37 amostras foram testadas para três tipos de adenovírus humano, além de rotavírus, enterovírus e coliformes fecais.
O Independent, do Reino Unido, lembrou que os testes feitos pela AP não encontraram nem sequer um local de provas seguro para os atletas. O jornal afirma ainda que a exposição aos vírus e bactérias podem acarretar problemas sérios de coração e até no cérebro.
A Reuters repercutiu a notícia com a secretaria estadual de Meio Ambiente, que refutou o estudo feito pela AP. De acordo com a agência de notícias, a secretaria garantiu que a qualidade da água nos locais de competição são aceitáveis, com excessão da Marina da Glória, de onde os barcos que participarão da competição de vela sairão.
“Tanto para os padrões europeus, como para os padrões americanos, a qualidade da água é apropriada para os eventos”, afirmou a secretaria à Reuters.
O Chicago Tribune, da cidade que perdeu para o Rio na disputa para sediar as Olimpíadas de 2016, também repercutiu a notícia, assim como a ESPN, ABC News, The Washington Times e L.A. Times.
O estudo ainda foi citado no fórum de discussão Reddit: em menos de 5 horas foi compartilhada e comentada por mais de mil internautas. Muitos falavam sobre a falta de infraestrutura do Brasil e também sobre o legado deixado em outras cidades que receberam edições das Olimpíadas de verão e inverno, como Barcelona, Atlanta, Grécia e Salt Lake City.

BRASIL PAÍS QUE CHEIRA MAL E FEDE MUITO COM A POLUIÇÃO DA CORRUPÇÃO

Águas contaminadas são risco para atletas que vão competir na Rio 2016
Análise da qualidade da água encomendada pela Associated Press encontrou níveis perigosamente altos de vírus e bactérias em locais de provas
30/07/2015 1:37 / ATUALIZADO 30/07/2015 2:15


Os remadores Diego Nazario e Emanuel Dantas Borges treinam na Lagoa Rodrigo de Freitas cercados por peixes mortos - Felipe Dana / AP


RIO – Os atletas que vão competir nos Jogos Olímpicos de 2016 terão que nadar e velejar em águas tão contaminadas por fezes humanas que se arriscam a contrair alguma doença e não poder concluir as provas, de acordo com uma investigação da Associated Press.
Uma análise da qualidade da água encomendada pela AP encontrou níveis perigosamente altos de vírus e bactérias de esgoto humano em locais de competições olímpicas e paralímpicas. Esses resultados alarmaram especialistas internacionais e preocuparam os competidores que treinam no Rio, alguns dos quais já apresentaram febres, vômitos e diarreia.
A poluição extrema das águas é comum no Brasil, onde a maior parte dos esgotos não é tratada e uma grande quantidade de resíduos puros corre por valas abertas até riachos e rios que alimentam os locais das competições aquáticas dos Jogos Olímpicos.
Em consequência, os atletas olímpicos quase certamente entrarão em contato com vírus causadores de doenças, que, segundo alguns testes, estão presentes em níveis até 1,7 milhão de vezes acima do que seria considerado alarmante em praias no sul da Califórnia, EUA.
Apesar de décadas de promessas oficiais de limpar a sujeira das águas, o fedor de esgoto ainda recebe os viajantes que pousam no aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim do Rio. Belas praias estão desertas, porque as ondas chegam à areia cheias de uma lama pútrida e, de tempos em tempos, a lagoa olímpica, Rodrigo de Freitas, fica repleta de peixes mortos em decomposição.
— O que se tem ali é basicamente esgoto puro —,” disse John Griffith, biólogo marinho do instituto independente Southern California Coastal Water Research Project. Griffith examinou os protocolos, metodologia e resultados dos testes da AP. — É água dos banheiros, dos chuveiros e do que as pessoas jogam na pia, tudo misturado, que vai para a água das praias. Isso seria interditado imediatamente se fosse encontrado aqui — disse ele, referindo-se aos Estados Unidos.
Autoridades brasileiras encarregadas da qualidade da água nos locais olímpicos afirmaram que não estão monitorando a presença de vírus.
Mesmo assim, Leonardo Daemon, gerente de Qualidade da Água do Inea, disse que eles estão seguindo as normas brasileiras de qualidade de água para uso recreativo, todas baseadas em níveis bacterianos.

— Qual é a norma que deve ser seguida para quantidade de vírus? Porque presença e ausência de vírus na água ... ela precisa de um padrão, um limite — disse Daemon. —Você não tem um padrão, uma norma que transfira a quantidade de vírus em relação a saúde humana, isso para contato em água.
Mais de 10 mil atletas de 205 nações devem competir nos Jogos Olímpicos do ano que vem. Quase 1.400 deles estarão velejando nas águas próximas da Marina da Glória na Baía de Guanabara, nadando na praia de Copacabana e praticando canoagem e remo nas águas insalubres da Lagoa Rodrigo de Freitas.
A AP encomendou quatro rodadas de testes em cada um desses três locais de competições olímpicas, e também na água que alcança a areia da praia de Ipanema, que é muito frequentada por turistas, mas onde não será realizado nenhum evento. Trinta e sete amostras foram testadas para três tipos de adenovírus humano, além de rotavírus, enterovírus e coliformes fecais.
Os testes virais da AP, que continuarão em 2016, indicaram que nenhum dos locais é seguro para nadar ou velejar, segundo os especialistas em qualidade da água que tiveram acesso aos dados da AP.
Os resultados dos testes indicaram altas contagens de adenovírus humanos ativos e infecciosos em algumas amostras, que se replicam no trato intestinal ou respiratório de pessoas. Esses são vírus conhecidos por causar doenças estomacais, respiratórias e outras, incluindo diarreia aguda e vômitos, além de doenças cerebrais e cardíacas, que são mais graves, porém mais raras.

As concentrações dos vírus foram aproximadamente as mesmas que são encontradas no esgoto puro, mesmo em uma das áreas menos poluídas testadas, a praia de Copacabana, onde serão realizadas as provas de natação do triatlo e maratona aquática e onde muitos dos 350.000 turistas estrangeiros esperados podem dar seus mergulhos.
— Todos correm risco de infecção nessas áreas poluídas — disse o Dr. Carlos Terra, hepatologista e presidente do Grupo de Fígado do Rio de Janeiro.
Um especialista americano em avaliação de risco para vírus transmitidos pela água examinou os dados da AP e estimou que os atletas internacionais em todos os locais de competições aquáticas teriam uma chance de 99% de infecção ao ingerir apenas três colheres de chá da água, embora a probabilidade de uma pessoa ficar doente dependa da imunidade e de outros fatores.
Além dos nadadores, os atletas de iatismo, canoagem e, em menor grau, remo com frequência ficam encharcados durante a competição, e também respiram as gotículas no ar.
A Lagoa Rodrigo de Freitas, que passou por obras de limpeza em anos recentes, foi declarada segura para remadores e canoístas. No entanto, os testes da AP revelaram que suas águas estão entre as mais poluídas dos locais de competições olímpicas, com resultados que variam de 14 milhões de adenovírus por litro no extremo inferior a 1,7 bilhão por litro no extremo superior.
Em comparação, especialistas em qualidade da água que monitoram praias no sul da Califórnia ficam alarmados se encontram contagens virais de 1.000 por litro.
— Se eu fosse participar das Olimpíadas provavelmente chegaria com antecedência, para me expor e fortalecer meu sistema imunológico contra esses vírus antes de competir, porque não vejo como eles vão resolver esse problema do esgoto — disse Griffith, o especialista em água da Califórnia.
UM RISCO ENORME PARA OS ATLETAS
Ivan Bulaja, o técnico croata da equipe de iatismo austríaca da classe 49er, está começando a compreender isso. Ele disse que seus iatistas perdem valiosos dias de treino depois de ficar doentes com vômitos e diarreia.
— Esta é de longe a pior qualidade de água que já vimos em toda a nossa carreira no iatismo — disse Bulaja.
Treinando no início deste mês na Baía de Guanabara, o velejador austríaco David Hussl conta que ele e seus colegas de equipe tomam precauções, como lavar o rosto imediatamente com água mineral quando se molham com as ondas e tomar banho assim que retornam à terra. No entanto, Hussl disse que adoeceu várias vezes.
— Tive febre e problemas de estômago. É sempre um dia totalmente na cama e, depois, mais uns dois ou três dias sem velejar — afirmou.
O técnico destaca o risco enorme para os atletas.
— A gente vive por uma medalha olímpica e pode realmente acontecer de ficar doente alguns dias antes da prova e não conseguir competir — disse Bulaja.
O Dr. Alberto Chebabo, que chefia o Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, disse que o esgoto puro é causa de problemas de saúde pública endêmicos entre os brasileiros, principalmente diarreia infecciosa em crianças.
Quando chegam à adolescência, disse ele, as pessoas no Rio já foram tão expostas aos vírus que desenvolvem anticorpos. Mas os atletas e turistas estrangeiros não terão essa proteção.
— Alguém que não foi exposto a essa falta de saneamento e vai a uma praia poluída corre, obviamente, um risco muito mais alto de ser infectado — disse Chebabo.
Estima-se que 60% dos brasileiros adultos tenham sido expostos à hepatite A, segundo o hepatologista Dr. Terra. Os médicos insistem que estrangeiros que vierem ao Rio, sejam atletas ou turistas, vacinem-se contra hepatite A. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos também recomendam que os viajantes ao Brasil sejam vacinados para febre tifoide.